quinta-feira, 12 de março de 2009

Histórico da Ópera Crioulo por Vasco Martins

O texto de ‘Crioulo’, escrito em língua Cabo-Verdiana é inspirado nos seguintes livros:
1. Cabo Verde, ‘Nascimento e Extinção de uma Sociedade Escravócrata’, (1460-1878) de António Carreira
2. ‘Cantos de trabalho’ em Cabo Verde de Osvaldo Osório
3. ‘The Vice Roy of Ouidah’, de Bruce Chatwin

A primeira versão desta ópera (no principio uma cantata), com o nome de ‘Lágrimas na Paraise’, foi composta em 1994, encomenda da Universidade de Paris VIII (França), interpretada pdlas vozes solistas Soli Tuti, dois percussionistas do Senegal e o próprio compositor aos sintetizadores. Esta primeira versão com 25 minutos, foi estreada nessa universidade em Março de 94, para assinalar a Abolição da Escravatura. Em Junho do mesmo ano, no palácio da Assembleia Nacional de Cabo Verde, foi interpretada a segunda versão com os mesmos músicos, sendo acrescentado na partitura outras partes.
Em 2002, para a abertura de Mindelo Capital Lusófona da Cultura foi tocada uma terceira versão também aumentada, com a produção artística de António Tavares que então sugeriu o novo nome: ‘Crioulo’. Teve este espectáculo um largo leque de músicos incluindo o Coro de Câmara de Lisboa, Bau, Djurumani, Paulo Maria Rodrigues, Zinha e batucadeiras de Santa Cruz, Estrelas do Fogo, batucada de Mindelo, o percussionista Tey Santos, Máximo Casadey e 11 bailarinos. Essa versão foi reposta na Cidade da Praia no dia 20 Janeiro em 2003 data que assinala a memória de Amílcar Cabral.
A partir de Abril 2003, Vasco Martins optou em fazer uma quarta versão orquestrada, revista e aumentada de modo a que esta ópera tivesse a possibilidade de ser apresentada através do mundo.

A partir de Agosto de 2008, o compositor fez acréscimos na música, orquestração e no texto, com a intenção de não haver um enredo habitual, mas sim o ‘fluir’ do canto embebido na própria realidade dos factos, tendo a figura feminina (voz soprano solista) o papel essencial: o símbolo da esperança, a indicadora dos caminhos, a voz secreta, dando unidade ao desenrolar da ópera ou ‘tempo histórico’.
Dia 17 de Janeiro Vasco Martins finalizou ‘Crioulo’.

Palavras do compositor
«Para além duma obra musical que fala de um período ‘mal aceite’ (a sistematização legal do tráfico de escravos africanos), é este o meu testemunho de homem livre, reprovando todas as formas de servidão e escravatura que por vezes subtilmente ainda permanecem no mundo.
Também é, e sobretudo, a consciência da história do Arquipélago de Cabo-Verde, significativa história: mais de 400 anos sob o sistema da escravatura: suscita reflexão, coragem intelectual e mente aberta: a lei universal das causas e efeitos.
Quando o homem adere ao lucro e à avareza revestidos de uma ideologia religiosa-moral, comete quase sempre, em determinadas circunstâncias históricas, actos odiosos enraizados nos complexos de incompreensão, da crueldade e do racismo.
Neste mundo que tende muitas vezes derivar para a intolerância, faço os meus votos que esta música induza sentimentos nobres e de esperança.»

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